sábado, 11 de abril de 2009

Mais uma enchente

Após o dilúvio vislumbrei o céu lindo, calmo e ensolarado, quem presenciou o ocorrido no dia anterior não acreditava no que via, o céu a nos sorrir, com esses raios luminosos...Era final da tarde, começou a ventania, a chuva forte caia sobre São Paulo, fechamos todas janelas apressadamente, por sorte a chuva não molhou meu livro, faltava pouco para terminar de escrevê-lo, as folhas estavam sobre a mesa, na sala ao final do corredor, a casa era grande, permanecemos na sala sentados e abraçados, ouvindo o som da chuva.

A princípio algumas inspirações, ideias construídas aos poucos, aquelas linhas manuscritas seriam o meu primeiro livro a ser publicado.Pablo era discreto, olhar penetrante, magro, alto, olhos pretos, belo sorriso, cabelos castanho-claro, dreads, pele clara, era músico, tinha paixão pela gaita, talvez, por ser o primeiro instrumento que aprendeu a tocar, ultimamente se dedicava ao seu livro.

Pablo desejava além de publicar seu livro, mudar de São Paulo, amava a cidade, mas não suportava a violência, que levou embora amigos durante assaltos, o trânsito caótico, que matou seus pais num acidente automobilístico, e a miséria que existia por todos os lados da cidade, só a maioria dos governantes não “enxergavam”.

Sophia trabalhava do outro lado da cidade, professora de yoga, casada há três anos com Pablo, juntos há sete, amavam-se, existia sintonia, respeito e companheirismo entre eles, raridade atualmente. Sophia era baixa, cabelos pretos, curtos, magra, olhos cor de mel, calma e delicada. Conheceram-se na ONG que voluntariamente aos sábados trabalhavam.
Era último dia do inverno, novamente a chuva caia forte, impiedosa, mais uma enchente em São Paulo. Sophia dirigia, tentava voltar para casa. Pablo estava preso no trânsito, o volume da água aumentava, motoristas se arriscavam a passar por ruas totalmente alagadas, mas não conseguiam, e ficavam totalmente reféns em seus próprios carros. Pablo abandona seu carro, pois a enxurrada estava cada vez mais forte, ele e outros motoristas foram se abrigar na passarela, que havia em cima da avenida que estavam.
Tenta falar com Sophia, mas o celular não dava nenhum sinal. Fica apreensivo. Ela consegue parar o carro, aguarda o temporal diminuir. Ele vê seu carro sendo levado pela correnteza rua abaixo. Fica mais apreensivo. Após seis horas a chuva pára, aos poucos a água vai diminuindo, caos em São Paulo, novamente. Pablo chega em casa e vê que por ali também inundou, somente a parte de cima estava intacta, Sophia adentra a casa, abraça Pablo e chora, eles se deitam na cama, se reconfortam num abraço e assim adormecem.

Pablo desperta após algumas horas, sabe que é preciso recomeçar mais uma vez, quantas vezes fazemos planos, que num piscar de olhos são alterados pela vida, quantas mudanças há em nosso viver, sem que antes sejamos consultados, se realmente é o queríamos, mas a vida é assim, enigmática, fantástica, porém sabe que tudo depende da maneira como enxergamos e do apego que sentimos frente às mudanças, mas recomeçar é preciso.

Agradece ao universo por Sophia estar bem e por estar ao seu lado. Lembra que amanhã começará a primavera, ele deseja que esta estação floresça a esperança em seu coração, pois o mundo não para, e ele é só mais um a recomeçar, algumas perdas materiais, o seu livro com grande valor sentimental, mas sabe que há coisas que o dinheiro não compra e que ele as possui, como o amor de Sophia, a paz de espírito, sua saúde e disposição para um novo dia, sabe que agora será a hora de mudar, partir de São Paulo. Pablo abre a janela e vislumbra o céu, lindo, calmo e ensolarado...

2 comentários:

Marcelo Fabri disse...

Oba! Ela voltou!

Alma & Imagem disse...

O texto é seu mesmo Bibian!!
Paixões e dramas...rs
Que bom que tudo acabou bem e que as pessoas possam sonhar com um novo dia!

Beijosss